As coisas mais difíceis no trabalho como psicóloga

Pode parecer que a coisa mais difícil no trabalho como psicóloga é escutar histórias tristes, casos de violência, ideações suicidas, amores que se foram, arrependimentos profundos. Sim, de fato, isso é difícil e requer treinamento para saber escutar, acolher, fazer refletir e causar transformações. É pesado ouvir certas histórias. Vira e mexe eu percebo que uma coisa tocou em um ponto doloroso para mim e isso chega a me afetar. Apesar de achar muito delicado, os anos passam e vai ficando relativamente mais fácil escutar, me mobilizar, mas não imergir nas dores alheias.

Sala de atendimento de psicologia

Dito isso, tem dois pontos que me dão ainda mais trabalho neste trabalho que resolvi exercer.

O primeiro deles é manter a linearidade na minha forma de me expressar. Eu não me permito estar diferente entre uma consulta e outra. Mas veja, é difícil, coisas acontecem e isso muda nossa forma de estar no mundo. Como posso estar igual se acabei de ser aprovada no mestrado, se minha avó morreu semana passada, se o filho da minha amiga nasceu, se minha mãe está doente, se estou em conflito sobre algo importante?

Eu, como paciente, não espero encontrar minha psicóloga cabisbaixa ou eufórica, e acredito que meus pacientes também não esperam isso de mim. Preciso estar constante nesse espaço para que o outro consiga trazer suas inconstâncias com tranquilidade e segurança. Porém, manter essa linearidade diante de acontecimentos intensos exige de mim um gasto energético gigante e esse é o ponto mais árduo em ser psicóloga.

O segundo aspecto é manter a atenção plena por 60 minutos. No mundo do Instagram e áudio 2x (que sou contra e evito), manter-me concentrada em apenas uma pessoa, um rosto, um ritmo vocal, é fatigante demais. O meu pensamento não pode vagar, meus olhos não podem ir ao relógio, todo o meu corpo precisa estar atento. Simultaneamente, ainda, preciso fazer associações com conteúdos do passado, ativar minha memória, correlacionar com a teoria e elaborar a intervenção ideal. É como ser maestrina de uma orquestra. E tem mais, depois da sinfonia tem outra pessoa aguardando para se revelar.

Ser psicóloga é bonito, mas é também difícil. Quem te disser o contrário, está mentindo.


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